OBRIGADO PELA VISITA

O LABORATÓRIO SIDERAL leva até você, somente POSTAGENS de cunho cultural e educativo, que trata do universo; das gentes; das lendas; das religiões e seus mitos, e de forma especial, dos grandes mistérios que envolvem nosso passado. Contém também muitos textos para sua meditação. Tarefa difícil, mas atraente. Neste Blog não há bloqueio para comentários sobre qualquer postagem.

A FOTO ACIMA É A VISÃO QUE TEMOS DO NOSSO INCANSÁVEL PICA PAU, ABUNDANTE AQUI NA MATA DA NOSSA "VILA ENCANTADA".

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

CURA REAL - Por Vicente Almeida

CURA REAL - TODOS PRECISAMOS

Não trate apenas dos sintomas, tentando eliminá-los sem que a causa da enfermidade seja também extinta.

cura real somente acontece do interior para o exterior.

- Sim, diga a seu médico que você tem dor no peito, mas diga também que sua dor é dor de tristeza, é dor de angústia.

- Conte a seu médico que você tem azia, mas descubra o motivo pelo qual você, com seu gênio, aumenta a produção de ácidos no estômago.

- Relate que você tem diabetes, no entanto, não se esqueça de dizer também que não está encontrando mais doçura em sua vida e que está muito difícil suportar o peso de suas frustrações.

- Mencione que você sofre de enxaqueca, todavia confesse que padece com seu perfeccionismo, com a autocrítica, que é muito sensível à crítica alheia e demasiadamente ansioso.

- Muitos querem se curar, mas poucos estão dispostos a neutralizar em si o ácido da calúnia, o veneno da inveja, o bacilo do pessimismo e o câncer do egoísmo.

Não querem mudar de vida!

- Procuram a cura de um câncer, mas se recusam a abrir mão de uma simples mágoa.

- Pretendem a desobstrução das artérias coronárias, mas querem continuar com o peito fechado pelo rancor e pela agressividade.

- Almejam a cura de problemas oculares, todavia não retiram dos olhos a venda do criticismo e da maledicência.

- Pedem a solução para a depressão, entretanto, não abrem mão do orgulho ferido e do forte sentimento de decepção em relação a perdas experimentadas.

- Suplicam auxílio para os problemas de tireoide, mas não cuidam de suas frustrações e ressentimentos, não levantam a voz para expressarem suas legítimas necessidades.

- Imploram a cura de um nódulo de mama, todavia, insistem em manter bloqueada a ternura e a afetividade por conta das feridas emocionais do passado.

- Clamam pela intercessão divina, porém permanecem surdos aos gritos de socorro que partem de pessoas muito próximas de si mesmos.

Do Livro: O Médico Jesus
De José Carlos De Lucca.
******************************

Deus nos fala através de mil modos; a enfermidade é um deles e por certo, o principal recado que lhe chega da sabedoria divina é que está faltando mais amor e harmonia em sua vida.

Toda cura é sempre uma autocura e o Evangelho de Jesus é a farmácia onde encontraremos os remédios que nos curam por dentro. Há dois mil anos esses remédios estão à nossa disposição.

******************************
Neste final de ano, quando celebraremos Natal e Ano Novo faça diferente, FAÇA A DIFERENÇA!!!. Procure aprender a ser útil em palavras e gestos.

Ali, mais adiante alguém precisa de um sorriso seu!

Aquele senhor de idade avançada está observando você se aproximar e gostaria de receber o seu Bom dia!

Esta criança observa você passando e não ousa lhe dirigir a palavra, mas seu olhar inspira atenção, em que você poderia ajudá-la?

Este maltrapilho homem que está lhe dirigindo uma muda súplica, será que pede ajuda ou apenas uma palavra amiga?

*************************
Estes são alguns dos atos de amor ao próximo, que poderíamos praticar, não somente neste final de ano, mas o ano todo. Seria o melhor medicamento para cura de tantas enfermidades como as mencionadas no texto acima e que sabemos existir de fato tal qual esta escrito.

Muito da ajuda que podemos prestar ao próximo, nada nos custa, bastando tão somente abrir o coração para gestos de amor. Jesus pregou e praticou durante sua passagem por este planeta.

DESEJO QUE O SEU NATAL E ANO NOVO SEJAM O PONTO DE PARTIDA PARA REALIZAÇÕES INOLVIDÁVEIS.

Vicente Almeida
17/12/2014

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

JESUS ERA PERIPATÉTICO - Por Vicente Almeida

Numa das empresas em que trabalhei, eu fazia parte de um grupo de treinadores voluntários.

Éramos coordenados pelo chefe de treinamento, o professor Lima, e tínhamos até um lema:"Para poder ensinar, antes é preciso aprender" (copiado, se bem me recordo, de uma literatura do Senai).

Um dia, nos reunimos para discutir a melhor forma de ministrar um curso para cerca de 200 funcionários. Estava claro que o método convencional: Botar todo mundo numa sala, não iria funcionar, já que o professor insistia na necessidade da interação, impraticável com um público daquele tamanho.

Como sempre acontece nessas reuniões, a imaginação voou longe do objetivo, até que, lá pelas tantas, uma colega propôs usarmos um
trecho do Sermão da Montanha como tema do evento.

E o professor, que até ali estava meio quieto, respondeu de primeira, Aliás, pensou alto: - Jesus era peripatético...

Seguiu-se uma constrangida troca de olhares, mas, antes que o hiato pudesse ser quebrado por alguém com coragem para retrucar a afronta, dona Dirce, a secretária, interrompeu a reunião para dizer que o gerente de RH precisava falar urgentemente com o professor. E lá se foi ele, deixando a sala à vontade para conspirar.

- Não sei vocês, mas eu achei esse comentário de extremo mau gosto, disse a Laura.

- Eu nem diria de mau gosto, Laura, eu diria ofensivo mesmo, emendou o Jorge, para acrescentar que estava chocado, no que foi amparado por um silêncio geral.

- Talvez o professor não queira misturar religião com treinamento, ponderou o Sales, que era o mais ponderado de todos.

- Mas eu até vejo uma razão para isso...

-Que é isso, Sales? Que razão?

-Bom, para mim, é óbvio que ele é ateu.

-Não diga!

-Digo. Quer dizer, é um direito dele. Mas daí a desrespeitar a religiosidade alheia...

Cheios de fúria, malhamos o professor durante uns dez minutos e, quando já estávamos sentenciando-o à fogueira eterna, ele retornou, mas nem percebeu a hostilidade.

entrou falando:

-Então, como ia dizendo, podíamos montar várias salas separadas e colocar umas 20 pessoas em cada uma. É verdade que cada treinador teria de repetir a mesma apresentação várias vezes, mas... Por que vocês estão me olhando desse jeito?

-Bom, falando em nome do grupo, professor, essa coisa aí de peripatético, veja bem...

-Certo! Foi daí que me veio a ideia. Jesus se locomovia para fazer pregações, como os filósofos gregos também faziam, ao orientar seus discípulos.

Mas Jesus foi o Mestre dos Mestres, portanto a sugestão de usar o Sermão da Montanha foi muito feliz. Teríamos uma bela mensagem moral e o deslocamento físico... Mas que cara é essa?

- Peripatético gente, quer dizer "o que ensina caminhando".

...E nós ali, encolhidos de vergonha. Bastaria um de nós ter tido a humildade de confessar que desconhecia a palavra que o resto concordaria e tudo se resolveria com uma simples ida ao dicionário. Isto é; para poder ensinar, antes era preciso aprender. 

Finalmente, aprendemos duas coisas:

A primeira: O fato de todos estarem de acordo não transforma o falso em verdadeiro.

A segunda: Que a sabedoria tende a provocar discórdias, mas a ignorância é quase sempre unânime.

Max Geringher
Vicente Almeida
20/10/2014

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

FINAL DOS TEMPOS - Por Vicente Almeida

Final dos Tempos
Chico Pessoa

Onde meu amigo que a gente vai parar.
Até parece que vai se acabar o mundo.
A luta dos sem terra, querendo o seu chão.
A prostituição de crianças pelas ruas.
A guerra pelo mundo que eu a lhe perguntar
Onde é que esse mundo vai parar.

Quando meu amigo que a gente vai crescer?
E evitar de vez os erros do passado.
Viver uma nação, num mundo sem fronteiras.
Falando a mesma língua, tendo a mesma bandeira.
Quando meu amigo a gente vai se envergonhar.
Onde é que esse mundo vai parar?

Diga meu amigo onde fica o paraíso.
Que tudo é belo, lindo e maravilhoso.
Que o povo é feliz, bonito, alimentado.
Que os velhos vivem bem, todo mundo perfumado.
Que lá não tem enchente, seca para atrapalhar.
Onde é que esse mundo vai parar?

Se tudo depende de nós, você não vai ficar aí parado.
Nossa arma é o amor, é a nossa voz
Pra fazer um mundo novo esquecendo o passado.

Se tudo depende de nós, eu não consigo dormir sossegado.
Se tem gente com fome, com frio, sem nada.
Tem outros com muito, com tanto pra nada.

Ajuda teu irmão nem que seja com pouco.
pois pouco com Deus é muito e o muito sem Deus é nada.
*****************************
Essa letra ressoa como um apelo a nossa sensibilidade, diante de tantos desmandos praticados contra o mais fraco.

Tente fazer alguém feliz, ajude! Ás vezes não custa nada: Um sorriso; Uma palavra amiga; Um ombro amigo; Um bom dia, Boa tarde ou boa noite é tudo de que muitos precisam para minimizar a solidão e as amarguras.

Se puder vá mais longe visite os enfermos, esqueça um pouquinho a TV e converse com alguém! Há tanta coisa para se dizer!

Hoje em dia, mesmo dentro de casa, as pessoas estão ilhadas e maravilhadas frente a tecnologia do PC ou TV, mal percebem que estão aprisionadas como em uma redoma. A família se auto destrói a cada dia por falta de diálogo. Tente ser diferente seja o divisor das águas!
Escrito por Vicente Almeida
13/08/2014
*****************************

sábado, 2 de agosto de 2014

O QUE É A MORTE - Por Vicente Almeida

O ser humano sempre temeu a morte. É o desconhecido que se descortinará inexoravelmente para todos a qualquer momento.

Esse temor, advem da certeza que temos de que algo dentro de nós sobrevive após cessar a vitalidade do corpo e ele ser devolvido à terra.

Muitas vezes ficamos inconformados com a partida de entes queridos para o além.

Sobre esses temores, Agostinho de Hipona (354/430) teólogo e filósofo dos mais importantes do início da era cristã, assim se expressou:

*****************************************************

A morte não é nada. 
Eu somente passei 
para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês, 
eu continuarei sendo.

Me deem o nome 
que vocês sempre me deram, 
falem comigo 
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo 
no mundo das criaturas, 
eu estarei vivendo 
no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene 
ou triste, continuem a rir 
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi, 
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.

A vida significa tudo 
o que ela sempre significou, 
o fio não foi cortado, 
Se fosse eu estaria fora 
de seus pensamentos,
agora estou apenas fora 
de suas vistas!

Eu não estou longe, 
apenas estou 
do outro lado do Caminho...

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.

*****************************************************

Antes de nos desesperarmos por que alguém partiu devemos meditar sobre a grandeza do nosso CRIADOR e tentar compreender que tudo está correto e segue seu rumo inexoravelmente. Ninguém parte antes da hora, salvo o suicida.

"Suicida não é somente aquele que usando ou improvisando uma arma investe contra si mesmo. Suicida é também todo dependente químico, alcoólatra, fumante e os imprudentes em geral".

Você sabia que o suicida não improvisa o ato de sua morte? Ele a programa nos mínimos detalhes durante certo tempo. Se algum ente querido não perceber a tempo esse desalinhamento mental e ajudá-lo a superar, o fato inexoravelmente se consumará.
Escrito por Vicente Almeida
02/08/2014

quarta-feira, 30 de julho de 2014

FAÇA AOS OUTROS O QUE QUERES QUE TE FAÇAM - Por Vicente Almeida

Antes de Falar... Escute...
Antes de Escrever... Pense...
Antes de Gastar... Ganhe...
Antes de Julgar... Espere... Melhor mesmo é não julgar...
Antes de Orar... Peça Perdão... e também Perdoe...
Antes de Desistir... Tente...

Certa vez, um homem tanto falou que seu vizinho era ladrão, que o vizinho acabou sendo preso.

Algum tempo depois, descobriram que o rapaz era inocente, ele foi solto, e, após muita humilhação resolveu processar seu vizinho (o caluniador).

No tribunal, o caluniador disse simplesmente ao juiz:

- Sr. Juiz, comentários não causam tanto mal...

E o Juiz, homem experiente, respondeu:

- Então escreva os comentários que você fez sobre ele num papel, depois pique o papel e jogue os pedaços pelo caminho de casa e amanhã volte para ouvir a sentença...!

O homem obedeceu e voltou ao Tribunal no dia seguinte e o Juiz assim falou:

- Antes da sentença, você deverá catar todos os pedaços de papel que espalhou ontem...!

- Não posso fazer isso meritíssimo...! respondeu o homem.

- O vento deve tê-los espalhados por tudo quanto é lugar e já não sei onde estão...!

Ao que o juiz respondeu:

- Da mesma maneira, um simples comentário pode destruir a honra de um homem, pois espalha-se a ponto de não podermos consertar o mal causado...

E continuou:

- Se não se pode falar bem de uma pessoa, é melhor que não se diga NADA...!

*************************************
Sejamos senhores de nossa língua,  para não sermos escravos de nossas palavras!...

...No mundo sempre existirão pessoas que vão te amar pelo que você é...

...Outros vão te odiar pelo mesmo motivo.

ACOSTUME-SE !...

Quem ama não vê defeitos...

...Quem odeia, não vê qualidades...

E quem é amigo... Vê as duas coisas!...
********************

Créditos do texto para o autor (desconhecido)
Vicente Almeida
30/07/2014

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O BAR DE JESUS - Por Luiz Lisboa

Recebi de um amigo, poeta e compadre, as duas quadrinhas a seguir. É mais um contraste de Várzea alegre.

Após lê-las, não me contive e tomei a liberdade de responder aqui mesmo nesta postagem.

BAR DO BUZUGA - Por Luiz Lisboa
Senhor padre por favor
Perdoe o meu pecado
Se eu ando embriagado
É porque carrego dor
Sei que isso não traz valor
E esse papo nada produz
Mas ainda vejo uma luz
Uma parcela pra minha soma
É que só no Sanharol você toma
Num bar que é de Jesus.

Isto não tem fundamento
Fazer apologia à cachaça
É sempre a maior desgraça
Acaba com casamento
Causa o maior sofrimento
O homem ao pó reduz
Mas uma coisa seduz
Quem tem boca vai à Roma
É que só no Sanharol você toma
Num bar que é de Jesus.

Em réplica e para desagravo respondi:

Lisboa tenha cuidado
Com esse seu trocadilho
Que sua luz não perca o brilho
Mas recomendo pacato
Deixe de ser tão ingrato
Nenhum bar teve o Jesus
Que por nós morreu na cruz
O Jesus do Sanharol
Não é um Jesus de escol
Como é nosso Jesus.

Se Jesus do sanharol
Embebedava com cana
Em vez de vender banana
Diferente era o farol
Do Jesus que mais que o sol
Iluminava o povão
Pois do futuro a visão
Com a palavra doutrinava
E a toda gente mostrava
Caminhos pra salvação.


**************************************

Para quem não sabe ainda: "Sanharol" é um bairro da cidade de Várzea Alegre, localizada no Sul do Ceará, conhecida como a "Terra dos Contrastes" e originou uma magnífica composição (letra e música) do poeta varzealegrense José Clementino interpretada por Luiz Gonzaga. Lá nasceu o Luiz Lisboa.


Em nossa visita a São Paulo recebemos o Lisboa e família no apartamento da nossa filha

Vicente Almeida
16/07/2014

terça-feira, 15 de julho de 2014

A DIVINA COMÉDIA - INFERNO - CANTO XXXIV - Por Vicente Almeida

Judeca - Lúcifer - O Centro da Terra.

- Estamos diante das bandeiras do rei do Inferno - disse-me Virgílio, - Olha pra frente e vê se consegues discerni-lo.
Dante e Virgílio, como miniaturas no alto do penhasco observando a descomunal figura de Lúcifer, respeitadas as proporções é o mesmo que comparar um beja-flor com uma águia - Ilustração de Paul Gustave Doré.
 Comecei a ver, na distância, o que parecia ser um grande moinho, que provocava aquelas rajadas de vento gelado. Estávamos chegando ao lugar onde eram punidos aqueles que traíram os seus benfeitores.

Neste lugar sombrio e gelado, as almas estavam completamente submersas no gelo, transparecendo como palha em cristal. Algumas estavam de pé, outras de ponta-cabeça, outras atravessadas, outras em arco, outras curvadas e outras invertidas.

Quando já tínhamos caminhado o suficiente, o mestre decidiu me mostrar aquele que um dia teve tão belo semblante:

- Esse é Dite - disse ele - e este é o lugar que exige toda a coragem que tens em ti.
Não me perguntes, leitor, como eu fiquei fraco e gelado, pois não há palavras que possam descrever aquela sensação. Eu não morri, nem estava vivo. Tente imaginar, se puderes, como sem uma coisa nem outra eu fiquei. Vi aquele gigante submerso no gelo, despontando seu corpo do peito para cima. Só o seu braço tinha o tamanho de um daqueles gigantes que encontramos na entrada do lago.

Fiquei mais assombrado ainda quando vi que três caras ele tinha na sua cabeça. Toda vermelha era a da frente. A da direita era amarela e a da esquerda negra. Acompanhava cada uma, um par de asas como as de morcego (eu nunca vi um navio com velas tão grandes). E ele as abanava, produzindo três ventos delas resultantes. Era esse vento que congelava as águas do Cócito. Ele chorava por seis olhos e dos três queixos caía uma sangrenta baba que pingava junto com as lágrimas. Em cada boca ele moía um pecador. O da frente ele mordia mais rapidamente que os outros. Cada ceifada lhe arrancava a pele inteira.
Lúcifer comendo almas pecadoras
- Esse da frente é Judas Iscariote - disse-me o mestre - que sofre pena dobrada, com a cabeça para dentro e as pernas para fora. O que é mordido pela boca preta é Bruto e o outro é Cássio. Mas em breve será noite. Está na hora de partirmos, pois já vimos tudo o que há para se ver. Agora, agarre-se em mim firmemente.

Obedeci-o e ele me carregou, se dirigindo para as costas de Lúcifer. Aguardou um pouco e quando as asas estavam altas, saltou da beira de um fosso para a escuridão, mas logo agarrou-se às costas peludas do Demônio. Descemos mais ainda. Estávamos entre as costas de Lúcifer e às crostas congeladas do Cócito. Quando chegamos à altura da junção da coxa ao tronco do gigante infernal, meu guia, já mostrando sinais de fadiga, inverteu o corpo e, sem soltar os pelos do monstro, seguiu, como se subisse, me fazendo pensar que voltávamos para o inferno.

- Segura firme - disse ele - pois não há outro caminho. Só por estas escadas poderemos escapar de tanto mal.

E saímos por uma brecha na rocha. Virgílio, visivelmente exausto por ter me carregado, me colocou numa beira para que eu me sentasse. Olhei para cima procurando por Lúcifer mas não o achei. Encontrei-o lá embaixo de pernas para o ar. Virgílio me confundiu ainda mais, falando:

- Levanta-te pois o caminho é longo. O dia já amanhece!

- Como amanhece? - perguntei-lhe - O tempo passou tão depressa assim? Como já pode ser dia se agora há pouco começava a noite? E me esclareças mais: onde está a geleira? E por que Lúcifer está de cabeça para baixo?

- Tu pensas que ainda estamos do outro lado. - disse-me o guia - Nós passamos pelo centro da terra, que puxa todo peso. Estamos agora embaixo do céu oposto, no hemisfério de água. Sob teus pés está uma pequena esfera, cujo lado oposto é ocupada pela Judeca. Se do outro lado anoitece, aqui o dia nasce.
Dante e Virgílio ao sair do outro lado da terra contempla os primeiros sinais celestes - Ilustração de Paul Gustave Doré.
Este buraco por onde passamos foi formado quando Dite caiu do céu, e ele até hoje aí permanece. Depois da queda, por medo dele, a terra que formava os continentes deste lado fugiu para o nosso céu deixando encoberto pelo mar todo este hemisfério. A terra que estava aqui amontoou-se na superfície onde formou uma montanha, deixando este caminho vazio. Aí embaixo há um lugar, tão distante de Belzebú quanto o limite de sua tumba, conhecido pelo som (e não pela vista) de um pequeno riacho que para cá descende, pelo sulco que por ele foi aberto.
Dante e Virgílio contemplando a abóboda celeste e felizes por haverem passado incólumes pelo inferno. A visão deles é a mesma de todos nós que os acompanhamos nesta viagem fantástica pelo imaginário do autor.
Passamos então o resto do dia seguindo por aquele caminho escondido debaixo do chão, sem descanso algum. Depois da longa caminhada subimos, ele primeiro e eu atrás, passando por uma pequena abertura na pedra, para enfim, rever as estrelas. O céu resplandecia em beleza.

*******************************************
**************************************
*********************************
PRONTO LEITOR, MISSÃO CUMPRIDA:

Saímos dos círculos infernais, FIM DA VIAGEM pelo Inferno, através da "Divina Comédia", do florentino Dante Alighieri.

E aqui termina o nosso trabalho. Aprendemos muito durante esta fictícia jornada.

O horror e o sofrimento, são realidades não descartáveis e às vezes bem pior do que aqui descrito, mas, nunca são eternos.

Na verdade, a nossa intenção era mostrar o que o nosso ser imortal poderá sofrer após a morte do corpo, como contrapasso (reflexo ou consequência) a cada ato danoso que venhamos a praticar em vida contra nosso semelhante.

A consequência pelos atos que praticamos é uma coisa que todos sabemos mas nem ligamos e cada vez aprofundamos mais o abismo que se abre sob nossos pés e inexoravelmente virá o dia em que deveremos iniciar o resgate das nossas faltas.

Ninguém, absolutamente ninguém poderá fugir do tribunal da própria consciência.

Da nossa parte, ficamos conhecendo muitos personagens da antiguidade, graças as pesquisas que empreendemos para entender o poema e postar as informações com segurança.

Passamos mais de seis meses publicando a cada cinco dias um Canto da primeira parte (INFERNO) do maior clássico da literatura universal.

Obrigado aos leitores que de alguma forma tenham se sentido estimulados a se integrar nesta fantástica viagem. Tenho certeza que muito aprenderam, se assim o desejaram.

As postagens se tornaram possíveis, graças ao grandioso e incansável tradutor e pesquisador Helder da Rocha que o transformou em prosa. Não fosse ele, A Divina Comédia continuaria sendo para nós, apenas um poema clássico, cansativo e incompreensível, exceto para aqueles (e não são poucos) que se propõem a aprofundar seus estudos no tema.

É difícil explicar Dante Alighieri, mas, milhares de estudiosos se dedicam a essa incansável tarefa.

As imagens: Pinturas e gravuras, tornaram possível uma melhor compreensão do texto, e não está longe da verdade o texto que diz: "Uma imagem vale mais do que mil palavras".

Quando o leitor tiver oportunidade, não deixe de ler algo que valha a pena. Seu despertar para uma leitura praseirosa é estimulante e educativa.




Quanto a continuação deste poema, - O Purgatório e o Paraíso, narram a trajetória da alma até finalmente chegar aos campos de delícias, como recompensa pelos atos de bondade que tenha praticado em vida.
Vicente Almeida
15/07/2014

quinta-feira, 10 de julho de 2014

A DIVINA COMÉDIA - INFERNO - CANTO XXXIII - Por Vicente Almeida

Espírito do Conde Ugolino e Espírito do Frei Alberigo.

O pecador virou-se, afastou a boca daquela terrível refeição, limpou seus lábios nos cabelos do crânio que devorava, e falou:

- Queres que eu me recorde de um terrível pesadelo. Mas, se o que eu disser puder trazer uma infâmia maior a este traidor de quem arranco as peles, tu ouvirás o meu relato e o meu pranto.
Alma do Conde Ugolino no Lago Cócito - Ilustração de Paul Gustave Doré
- E prosseguiu - Eu não sei o teu nome, nem de onde és, mas pareces florentino. Tu deves saber que eu fui o conde Ugolino, e que este outro é o arcebispo Ruggieri. Por causa de sua perversa astúcia, por confiar neste desgraçado eu fui traído, detido e morto, como vês.
Conde Ugolino encarcerado com os filhos para morrerem de fome e sede -  Ilustração de Paul Gustave Doré
Mas antes saibas da forma cruel como fui morto para que possas julgar-me. Se o pensamento do que agora vou dizer não te tocar o coração, como tu és cruel! E, se não chorares, será que alguma vez choras? Eu fui preso com meus quatro filhos em uma cela para morrer de fome.

Todos os dias meus filhos choramingavam e me pediam pão, e o pão nunca chegava. Eu ouvi o portão da torre lá embaixo ser lacrado com pregos e então olhei para as faces dos meus, e não lhes disse nada. Eu não chorei. Me transformei em pedra por dentro.

Eles choravam e meu pequeno Anselminho falou "O que tens, meu pai, o que é que há?" Não respondi e nem uma só lágrima caiu durante todo o dia, nem durante toda a noite seguinte. 

Quando um raio de sol clareou aquele cárcere doloroso por um instante, me vi refletido nos quatro rostos, e mordi minhas mãos de desespero.
Conde Ugolino na prisão observando os filhos morrendo de inanição - Ilustração de Paul Gustave Doré
E eles, pensando que eu mordia minhas mãos de fome, me disseram: "Pai, nós sofreremos menos se comeres de nós. Tu nos vestisse com estas míseras carnes e tu podes tomá-las de volta!"

Fiquei quieto para não me tornar mais triste. 

Durante esse dia, e o outro, ninguém falou nada. No quarto dia, Gaddo lamentou aos meus pés "Pai meu, por que não me ajudas?" e depois morreu...

...Depois eu os vi morrendo um a um, do quinto ao sexto dia, os outros três. Por mais dois dias, já cego, chorei sobre seus corpos mortos, até que no oitavo dia a morte me levou.

Quando terminou de falar, virou seu rosto para a sua vítima e voltou a atacar aquele crânio com os dentes, como um cão que não solta o seu osso.

Ai Pisa, que vergonha és para a nossa Itália! Se o conde Ugolino era culpado de ter traído um dos castelos teus, nada justificava que seus filhos fossem torturados.

Seguimos adiante até o lugar onde o gelo maltrata de forma mais dura os pecadores. Com os rostos virados para cima, nem nos olhos a sua angustia encontra alívio, pois lá se forma uma barreira de gelo no primeiro choro, quando as lágrimas congelam e preenchem toda a cava do olho.

Embora o frio tivesse afastado toda a sensação do meu rosto, comecei a sentir uma leve brisa e perguntei ao mestre:

- Mestre, que vento é este? Pensei que vento algum poderia chegar a estas profundidades.

- Logo saberás - respondeu Virgílio - pois teus próprios olhos te darão a resposta.

Enquanto conversávamos, um dos desgraçados submersos no gelo nos ouviu e gritou:

- Ó réus tão cruéis que para vós foi imposta a pior das penas, tirai este gelo de meus olhos, e me livrai da dor que impregna meu coração, até que novas lágrimas selem meus olhos outra vez.

- Eu prometo te ajudar, mas diga primeiro quem és. - falei. - Se eu não cumprir o que prometi, que possa eu então chegar ao fundo desta geleira.

- Sou frei Alberigo. - disse o espírito. - aquele das frutas do mau horto, e aqui recebo tâmara por figo.

- Oh! - exclamei. - Então tu já estás morto?

- Pode até ser que meu corpo ainda esteja lá em cima, - respondeu - mas nenhuma ligação tenho mais com ele. Quando uma alma comete traição tão estúpida quanto a minha, o seu corpo lá na Terra é imediatamente possuído por um demônio que o governa até que chegue o seu dia. A alma que antes habitava o corpo cai aqui na Ptoloméia. Mas tu que chegas agora deves também conhecer esse aí do lado. Ele é Sr. Branca d'Oria e está aqui neste gelo há muito mais tempo do que eu.

- Creio que me enganas - disse eu -, pois que eu saiba, Branca d'Oria ainda vive. Ele come e bebe, dorme e veste roupas!

- É ele sim! - insistiu o frei Alberigo - Antes de Michel Zanche, sua vítima, chegar ao fosso guardado pelos Malebranche, ele já congelava neste lago. O seu corpo foi, na ocasião, recebido por um diabo, que provavelmente ainda o possui. Mas já falei o suficiente. Estende logo tua mão e livra-me os olhos!

Ele pediu, mas eu não obedeci. E foi cortesia minha ser-lhe vilão.

Ah genoveses! Vós que sois avessos a toda lei e adeptos da corrupção; por que o mundo não se livra de uma vez de vossa gente? Pois, fazendo companhia ao pior espírito da Romanha, vi um dos vossos, cujas obras eram tais que sua alma já congela no Cócito, mas seu corpo parece vivo e ainda caminha entre vós.
*********************************

No Canto XXXIV (última postagem da nossa visita simbólica ao inferno) chegaremos ao centro da terra e veremos Judeca - Lúcifer - Bruto - Cássio - Judas.
Vicente Almeida
10/07/2014