OBRIGADO PELA VISITA

O LABORATÓRIO SIDERAL leva até você, somente POSTAGENS de cunho cultural e educativo, que trata do universo; das gentes; das lendas; das religiões e seus mitos, e de forma especial, dos grandes mistérios que envolvem nosso passado. Contém também muitos textos para sua meditação. Tarefa difícil, mas atraente. Neste Blog não há bloqueio para comentários sobre qualquer postagem.

A FOTO ACIMA É A VISÃO QUE TEMOS DO NOSSO INCANSÁVEL PICA PAU, ABUNDANTE AQUI NA MATA DA NOSSA "VILA ENCANTADA".

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

ADEUS ANO VELHO... BEM VINDO ANO NOVO - Por Vicente Almeida

Tudo que podia falar, falei!
Tudo que podia viver, vivi!
Tudo que tinha para amar, amei, e como amei!
Tudo que podia aprender, aprendi, e como aprendi!
Tudo que tinha para perdoar, perdoei!
Tudo que precisava construir, construí!

Agora, deixo a velha nave
Para embarcar na nave do futuro
Antes que esta definitivamente trave
Passo para a outra que é porto mais seguro.

Deixo na velha nave os vícios
Levo na bagagem os dons
O mal, esse joguei nos precipícios
Nesta viagem planetária, uno-me aos bons.

2013 deu o seu recardo e parte contente
Deixando belas lembranças em sua trajetória
2014 estimula o desejo de seguir em frente!
Nele me agarro com garra, amor e certeza da vitória.

Nestes últimos instantes deste belo ano
A Deus elevo meu pensamento, e em prece
Rogo, derramai Senhor, teu amor soberano
Fazei com que durante o novo ano
Tenha conforto e paz, aquele que padece.
Escrito por Vicente Almeida
31/12/2013 - 23:55hs

ULTIMO DIA DO ANO - TEMPO ESGOTADO - Por Vicente Almeida

Embora EM 2013 tenhamos recebido gratuitamente 365 dias, equivalentes a 8.760 horas ou 525.600 minutos, observamos que nem todos aproveitaram esse tempo de maneira a construir melhor o seu futuro e por isso, oportunidades de ouro foram perdidas para sempre. Hoje é terça feira, 31 de Dezembro de 2013. 

Amanhã a 00;00,001 hs uma caixa de surpresas será aberta. Um novo ano escancara suas portas abrindo oportunidades e chances inumeráveis para esta humanidade, mas, nem todos terão uma nova chance durante todo o ano, nem usufruirão dos seus 365 dias como em 2013.

Será que ao perder as oportunidades de 2013 teremos tempo para realizar algum sonho no próximo ano antes de partir para o outro lado da vida?

Pelo sim, pelo não, que tal refletir com seriedade sobre as atitudes pessoais e se necessário realinhar as ideias, de forma a contribuir em 2014 para a construção de um mundo melhor, com menos violência, menos amargura e menos acidentes?!

Tudo é possível, só depende da forma individual de como iremos conduzir nosso destino.

Entretanto, nada será possível sem um pequeno e às vezes insignificante começo, mesmo que nos custe sacrifícios.

Sacrifícios e dificuldades são oportunidades para aperfeiçoar nossa capacidade. NUNCA, nunca devemos desistir de um sonho, apenas por que encontramos obstáculos, eles existem para ser avaliados e superados. Se desistirmos, estaremos projetando fracassos para nosso futuro e eles se tornarão realidade mais rápido do que possamos imaginar.

Cego é aquele que não quer ver. Todos têm potencialidades latentes para realizar suas tarefas, por que Deus nos concede um corpo apto a realizar nossa missão e também a capacidade de finalizá-la. Mesmo que esse corpo aparentemente tenha alguma deficiência, ele nos possibilitará cumprir a finalidade a que se destinou por força da eterna lei de justiça e amor.

Deus concede ao poeta o dom da rima que com suas poesias e repentes estimulam o amor, o bem estar e a paz, mesmo que ele não tenha estudo; Ao médico concede a capacidade de se instruir suficientemente, a habilidade para executar delicadas cirurgias e assim ajudar na cura das enfermidades do mundo; Ao engenheiro concede a habilidade técnica para projetar e construir grandes empreendimentos; Ao estivador que é um homem rude, Deus concede a força bruta para transportar grandes fardos sem sucumbir ao seu peso;

É possível e necessário superar todos os obstáculos. Quando Deus nos põe a prova, não nos dá carga maior do que podemos carregá-la, por isso Ele provê os deficientes, com maior sensibilidade e formas inimagináveis de superação, com o fim de compensar aquela deficiência, e o leitor tem visto muito isso pelo mundo a fora. Nos vídeos abaixo você tem um exemplo vivo do que estamos falando.


VIU!? ressalvadas raríssimas exceções, a deficiência nunca é tão grave que o portador não consiga sua realização pessoal. Nossas limitações nem sempre são barreiras intransponíveis.

Na verdade, nossas limitações são criadas por nós, por nossa mente, não pelo corpo. Tudo depende do comando enviado ao cérebro: "Eu não quero e não posso" Depois de pensar ou falar mais ou menos assim, seu cérebro irá trabalhar contra você, dai surgindo a verdadeira deficiência, mesmo em corpo perfeito.

Não é possível que a maioria de nós, sendo perfeitos fiquemos aguardando favorecimento sem fazer esforços. Questionamos o sucesso dos outros e esquecemos de promover nosso próprio sucesso, que está dentro de nós, pronto para desabrochar só precisa de boa vontade, fé e trabalho. 

Não é absolutamente necessário projetos ambiciosos, grandiosos, mirabolantes. Para o novo ano faça seu projeto conforme sua capacidade mantendo os pés no chão.

Ajude conforme suas possibilidades sem esperar fazer isto quando estiver rico ou ganhar uma grande bolada. Isso é quimera, é utopia é querer fazer continência com o chapéu alheio.

Não se constrói no futuro, se constrói no presente, aqui, agora! Não se pode dar ou doar muito daquilo que não se tem, mas se pode doar um pouco do que já se tem. E não pensemos em realizar o bem somente com dinheiro, pensemos em amor que é moeda UNIVERSAL. Jesus Cristo nunca usou dinheiro para praticar a caridade, mas seus atos e ensinamentos enriqueceram e transformaram a humanidade.

Em 2014 façamos o melhor que pudermos evitando a prática de atos desabonadores, mesmo por que tudo, inexoravelmente retornará para nós em forma de benefícios ou sofrimentos. Ser feliz é uma opção pessoal e intransferível.

É preciso sonhar. O sonho é meio caminho para a realização pessoal, mas, tenhamos cuidado com nossa conduta, não criemos erros novos, nem repitamos erros passados, pois, os erros do passado têm a propriedade de contaminar o presente e destruir o futuro.

Nenhuma ideia se realiza sem a força motriz que rege o UNIVERSO, chama-se TRABALHO. Não percamos tempo na ociosidade, não esperemos sucesso sem uma luta aguerrida, sem derramar muito suor e lágrimas. O tempo não espera por ninguém. Cada novo dia possibilita nova chance de recomeço, se necessário recomecemos, mas, não nos aquietemos esperando dias de bonança sem contribuir com nosso esforço pessoal. Eles nunca virão!

Uma grande jornada tem início com o primeiro passo e o sucesso depende de nossa perseverança e da qualidade daqueles que selecionamos para nos acompanhar!
Escrito por Vicente Almeida
31/12/2013

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A DIVINA COMÉDIA - INFERNO - CANTO VI - Por Vicente Almeida

CANTO VI

Cérbero - Círculo da gula (3) - Espírito de Ciacco

Quando acordei já estava no terceiro círculo, cercado de mais tormentos e mais atormentados que surgiam de todos os lados. Uma chuva, gélida, eterna, com neve e granizo, caía sobre a lama podre que as almas encharcavam.
Chuva Eterna sobre os pecadores que em vida cometeram o pecado da gula - Ilustração de Donn P Crane
Cérbero, fera cruel e perversa, latia com suas três goelas para as almas submersas na lama. Ele tem uma barba negra e seis olhos vermelhos, ventre largo e garras aguçadas com as quais rasga os pecadores e os tortura. Elas berravam como cães e se contorciam na lama, tentando em vão se proteger das chicotadas da chuva dura.
O gigante Cérbero com a boca cheia de almas - Ilustração de Gustave Doré
Quando Cérbero nos viu, abriu suas três bocas e exibiu suas presas, rangendo e estremecendo diante de nós. Meu mestre, cauteloso, encheu suas mãos de terra e atirou nas goelas do cão danado. O monstro, guloso, não hesitou em engolir a terra, se emperrou com ela e ficou em silêncio, como um cão faminto que se ocupa com o seu osso.

Caminhamos, então, por entre as almas, pisando espectros vazios que se assemelhavam a formas humanas. Todos os espíritos jaziam submersos, se confundindo com a lama que assumia suas formas, transparentes, exceto um que se ergueu na hora em que passávamos na sua frente.

- Ó tu que és guiado por este inferno - falou - me reconhece, se puderes, pois tu foste vivo antes que eu fosse desfeito.

- A angústia - disse eu - te deforma de maneira que eu não consigo reconhecer-te. Mas dize-me quem tu és, condenado a este lugar vil e submetido a tamanha tortura.

- A tua cidade - respondeu -, tão invejosa, um dia me teve na vida serena. Teus conterrâneos me chamam Ciacco e por causa da gula sofro na chuva, como estas outras almas, condenadas por semelhante culpa.
Ciacco se ergue da lama e conversa com Dante - Ilustração de Gustave Doré
- Ciacco - eu disse a ele -, teu estado miserável me causa grande tristeza, mas dize-me o que vai acontecer, com os cidadãos de florença, se souberes?

- Depois da paz, haverá guerra e sangue. - relatou Ciacco - O partido rústico (os Bianchi) expulsará a outra parte brutal (os Neri), mas, depois de três sóis, com a ajuda daquele que agora parece estar dos dois lados (Bonifácio VIII), voltarão ao poder, e por longos anos manterão os outros afastados, por mais que implorem ou chorem.

Quando ele terminou de narrar sua terrível profecia, perguntei-lhe:

- Onde estão Farinata e Tegghiaio, Jacopo Rusticucci, Arrigo, Mosca, e tantos outros que usaram seu gênio para o bem? Estarão eles aqui ou estarão eles no céu? 

- Tu os encontrarás mais embaixo, nas valas abissais. - disse a alma - Se desceres mais, poderás vê-los todos! Mas quando voltares mais uma vez ao mundo doce, te imploro que leve minha lembrança aos que lá deixei. Nada mais te digo nem te respondo.

Depois que terminou de falar, Ciacco afundou e desapareceu de repente. O mestre então falou:

- Este não mais se levantará até o dia em que soar a trompa angelical. Quando isto acontecer, a adversa potestade virá e cada alma voltará à sua tumba, retomará sua carne e sua forma humana, e ouvirá a voz que eterna soa.

E assim cruzamos aquela mistura suja de almas com chuva, aproveitando para falar um pouco da vida futura. Perguntei:

- Mestre, quanto a este tormento, ele crescerá, será o mesmo ou será atenuado após a grande sentença?

- Retorna a tua ciência na qual se ensina que o ser mais perfeito mais sente, seja o bem ou a ofensa, embora essas almas malditas nunca possam um dia chegar à perfeição, para lá, mais que para cá, será sua sina.

Ao nos aproximarmos da entrada para o quarto círculo, encontramos Pluto, grande inimigo.
Vicente Almeida
30/12/2013

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A DIVINA COMÉDIA - INFERNO - CANTO V - Por Vicente Almeida

CANTO V

Minós - 2º Círculo - Da luxúria - Espíritos de Paolo e Francesca

Assim que entramos no segundo círculo, lá estava Minós, rangendo terrivelmente. Ele ficava na entrada e recepcionava os pecadores, julgando-os um por um. Ouvia suas confissões e proferia a sentença, se enrolando na própria cauda. O número de voltas que dava a sua cauda indicava quanto deveria descer o pecador para o seu lugar nas profundezas do inferno.
Minós no circulo da luxuria - Gravura de Gustave Doré Século XIX
Uma grande multidão se amontoava diante daquele juiz. Cada pecador falava, ouvia sua sentença, e era atirado no abismo.

- Ó tu que entras no asilo da dor - disse Minós ao me ver, interrompendo seu ofício, - Vê bem em quem confias e como entras aqui. É fácil de entrar, mas não te enganes!

- Por que gritar? - respondeu Virgílio ao juiz dos mortos - Não podes impedir esta jornada, pois lá, onde tudo o que se quer se pode, isto se quer e não peças mais nada!

Minós se calou, e nós prosseguimos. Pouco a pouco comecei a perceber sons tristes, muito pranto e lamentos.

Neste lugar escuro onde eu me encontrava, o som das vozes melancólicas se assemelhava ao assobio do mar durante uma grande tormenta. Os tristes sons emanavam de um enorme redemoinho. Eram almas sofredoras, sacudidas pelo vento que nunca cessava.
Paolo , Francesca e muitos outros, suspensos e atormentados pelo vento num vai-e-vem-sem fim - Gravura de Gustave Doré - Sec. XIX
Entendi que era o castigo pela transgressão da carne, que desafia a razão, e a submete à sua vontade.

No escuro vento, vi várias sombras que passavam se lamentando e ao mestre perguntei:

- Mestre, quem são essas pessoas que o vento tanto castiga?

- A primeira, cuja história deves conhecer - explicou o mestre, - foi imperatriz de povos de muitas línguas. É Semíramis, a sucessora e esposa de Nino. A que a segue é a viúva de Siqueu, que se matou por amor. Ali tu vês Cleópatra, luxuriosa. Veja Helena, e também Aquiles, Páris, Tristão.
Ainda no círculo da luxúria - Ilustração de Gustave Doré
- E, uma por uma, me indicou outras mil sombras que tiveram suas vidas desfeitas pelo amor.

- Poeta - eu falei - eu gostaria, se for possível, de falar com aqueles dois, unidos, que tão leves parecem ser ao vento.

- Espera - respondeu, - em breve estarão próximos de nós, e quando a fúria do vento diminuir, peça, pelo amor que os conduz, que eles virão.

Então, quando a tormenta cedeu um pouco, eu chamei:

- Ó almas sofridas, falai conosco, se isto for permitido! Elas ouviram, entenderam meu pedido. Deixaram o bando onde estavam as outras e se aproximaram. Uma delas falou:
Conversa de Dante com Francesca e Paolo no círculo da luxúria - Pintura de Anselm Feuerbach - Século XIX
- Ó ser gracioso e benigno, o que desejares ouvir ou falar conosco, nós ouviremos e falaremos, se o vento permitir.

Nasci na terra onde o Pó deságua.
Amor, que ao coração gentil logo se prende,
tomou este aqui, pela beleza da pessoa que de mim foi levada,
e o modo ainda me ofende.

Amor, que a nenhum amado amar perdoa,
prendeu-me, pelo seu desejo com tanto porte,
como vês, ele ainda não me abandona.
Este amor nos conduziu a uma só morte.

Caína aguarda aquele que tirou as nossas vidas. 

Ao ouvir esse lamento, baixei o rosto, e permaneci assim, até Virgílio me despertar. Voltei novamente àquele casal, e perguntei:

- Francesca, o teu martírio me traz lágrimas aos olhos, mas dize-me, como permitiu o amor que tomásseis conhecimento de vosso sentimento recíproco?

- Não há maior dor, que lembrar da felicidade passada - disse ela - mas se teu grande desejo é saber, te direi como quem chora e fala.

Líamos um dia a sós, sobre o amor que seduziu Lancelote. Várias vezes essa leitura nos ergueu olhar a olhar. Mas foi quando chegamos àquele ponto que falava do sorriso que desejava ser beijado por um perfeito amante, que este aqui que nunca me seja apartado, tremendo, beijou-me na boca naquele instante. Nosso Galeoto foi aquele livro e quem o escreveu. Desde aquele dia, não o lemos mais adiante.
Paolo e Francesca - Pintura de Dante Gabriel Rossetti -Século XVIII
Enquanto uma alma contava a sua história triste, a outra chorava sem parar ao seu lado, e eu, comovido de piedade e dor, desmaiei, e caí como um corpo morto cai.
Vicente Almeida
25/12/2013

DE QUEM É O NATAL? - Por Vicente Almeida

Poucas pessoas lembram de quem é o NATAL. Uns acham que o NATAL significa gastos estupendos com presentes para as pessoas mais chegadas, outros acham que dar um grande banquete é estar celebrando o NATAL.

De quem é o NATAL? O que o dia 25 de dezembro significa para a cristandade? E para você qual o sentido? Você sente algo lhe tocar o SER ou é daqueles que vê apenas mais um dia para bebemorar? Tanto faz?

Será que véspera de NATAL é apenas um conjunto de dias que leva todos as lojas para comprar presentes e dar a quem já tem? Presentes esses que no dia seguinte se não tiver alguma utilidade já ficará esquecido em algum lugar!

É... Para muita gente, NATAL é isso mesmo: Presentes, bebidas, encontros, lautos jantares. E Jesus aonde fica? Você acha mesmo que ele está lá naquele presépio que você montou apenas para enfeitar a sala, compor o mobiliário por uns dias?

Ah... Que pena, Jesus gostaria imensamente de estar com você celebrando, mas, se vê marginalizado tanto quanto todos aqueles que foram esquecidos no NATAL

se no próximo NATAL você pensa grande.

Ei, psiu! estou falando com você que tudo tem e tudo pode, mas para doar precisa da mídia para divulgar o feito. Vaidade das vaidades.
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Nos últimos instantes deste belo ano;
A Deus elevo meu pensamento, e em prece;
Rogo, derramai Senhor, teu amor soberano;
Fazei com que durante o novo ano;
Tenha conforto e paz, aquele que padece.



Escrito por Vicente Almeida
25/12/2013

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A DIVINA COMEDIA - INFERNO - CANTO IV - Por Vicente Almeida

CANTO IV

1º Círculo - O Limbo e o Castelo dos iluminados.

Acordei ao som de um trovão, já nas bordas abissais do fosso infernal, onde ecoam gritos infinitos. Tão escuro e nebuloso era que, por mais que eu tentasse forçar a vista ao fundo, não conseguia discernir coisa alguma.

- Desçamos ao mundo onde nada se vê. - disse Virgílio - Eu irei na frente e tu me seguirás. - e fez uma indicação para que eu o seguisse. Ele estava com uma aparência muito pálida, e por isso me assustei, hesitando por um instante.

- Como queres que eu te siga tranqüilo, se estás com medo? - perguntei.

- Não é medo. - respondeu - A piedade me clareia o rosto, por causa da angustia das gentes desamparadas que aqui sofrem. Andemos, pois temos ainda um longo caminho pela frente.

E assim ele me guiou para o primeiro círculo que rodeia o poço abissal. Naquele lugar não ouvi sons de lamentação, somente suspiros. Só havia mágoa. Como não lhe perguntei nada, o poeta resolveu me explicar que espíritos eram aqueles que eu estava vendo.

- Estes coitados não pecaram, mas não podem ir para o céu - explicou -, pois não foram batizados. Estão aqui as crianças não batizadas e aqueles que viveram antes de Cristo, como eu. Aqui não temos sofrimento, mas também não temos nenhuma esperança.

Senti pena dele enquanto falava e imaginei quanta gente de valor deveria estar suspensa para sempre nesse limbo, e então perguntei-lhe:

- Algum desses habitantes, por mérito seu ou com a ajuda de outro, pôde algum dia ir para o céu?

- Eu era novato neste lugar - respondeu Virgílio -, quando um Rei poderoso aqui desceu. Ele usava o sinal da vitória na sua coroa. Veio, e nos levou Adão, Noé, Moisés, Abraão, David, Israel, Raquel e vários outros que ele escolheu. E deves saber, antes que essas almas fossem levadas, nenhuma outra alma humana havia saído daqui e alcançado a salvação. 
Dante, Homero, Lucano, Virgílio e outras grandes figuras da Antiguidade Ilustração de Gustave Doré (século XIX).
Não paramos de caminhar enquanto ele falava, mas continuamos pela selva, digo, a selva de espíritos. Não tínhamos nos afastado muito do ponto onde eu acordei, quando vi um fogo adiante, um hemisfério de luz que iluminava as trevas. Mesmo de longe, pude perceber, que aquele lugar era habitado por gente honrosa.

- Ó mestre que honras a ciência e a arte, quem são esses, privilegiados, que vivem separados dos outros aqui? - perguntei.

- O nome honrado que ainda ressoa no teu mundo lá em cima, encontra a graça no céu que o favorece aqui.

Mal ele terminara de falar, ouvi um chamado que partiu de um dos vultos iluminados:

- Saudemos o altíssimo poeta. - gritou a alma - Sua sombra que havia partido já está de volta!

Depois que a voz se calou, vi quatro grandes vultos se aproximarem. Os seus rostos não mostravam tristeza, mas também não mostravam alegria. Virgílio os apresentou:

- Este é Homero, poeta soberano, o outro é Horácio, o satírico, Ovídio é o terceiro e por último, Lucano.

Quando chegamos até eles, o mestre falou-lhes em particular e depois eles me saudaram, tratando-me com deferência, incluindo-me como o sexto do seu grupo.

Prosseguimos, então, os seis, até finalmente chegarmos ao local de onde emanava a luz. Lá se erguia um nobre castelo de muros altos, cercado por um belo riacho. Sete muros o cercavam. Nós passamos sobre o riacho como se fosse terra dura, depois, sete portões atravessamos até chegarmos a um verde prado, onde muitas outras pessoas conversavam.

De lá mudamos para um local aberto, luminoso e alto, onde podíamos ter uma visão completa de todos. Reconheci várias grandes figuras como Enéas, Heitor e César, Aristóteles, Sócrates e Platão, Orfeu, Heráclito, Tales, Zenão, Ptolomeu e muitos outros.

Exaltou-me a possibilidade de poder encontrar todos esses espíritos, cuja sabedoria enchia de luz aquele lugar sombrio. Havia mais. Muitos. Tantos eram, que não posso aqui listar todos.
Vicente Almeida
20/12/2013

domingo, 15 de dezembro de 2013

A DIVINA COMÉDIA - INFERNO - CANTO III - Por Vicente Almeida

CANTO III


O portal do Inferno – Vestíbulo - Rio Aqueronte - Caronte

Dante e Virgílio diante da entrada do Inferno Ilustração de Helder da Rocha
POR MIM SE VAI À CIDADE DOLENTE,
POR MIM SE VAI À ETERNA DOR ,
POR MIM SE VAI À PERDIDA GENTE.

JUSTIÇA MOVEU O MEU ALTO CRIADOR,
QUE ME FEZ COM O DIVINO PODER,
O SABER SUPREMO E O PRIMEIRO AMOR.

ANTES DE MIM COISA ALGUMA FOI CRIADA
EXCETO COISAS ETERNAS, E ETERNA EU DURO.
DEIXAI Ó VÓS QUE ENTRAIS, TODA ESPERANÇA!

Estas palavras estavam escritas em tom escuro, no alto de um portal. Eu, assustado, confidenciei ao meu guia:

- Mestre, estas palavras são muito duras.

- Não tenhas medo - respondeu Virgílio, experiente - mas não sejas fraco! Aqui chegamos ao lugar, do qual antes te falei, onde encontraríamos as almas sofredoras que já perderam seu livre poder de arbítrio. Não temas, pois tu não és uma delas, tu ainda vives.

Em seguida, Virgílio segurou minha mão, sorriu para me dar confiança, e me guiou na direção daquele sinistro portal.

O Vestíbulo ou Anti-Inferno

Logo que entrei ouvi gritos terríveis, suspiros e prantos que ecoavam pela escuridão sem estrelas. Os lamentos eram tão intensos que não me contive e chorei. Gritos de mágoa, brigas, queixas iradas em diversas línguas formavam um tumulto que tinha o som de uma ventania. Eu, com a cabeça já tomada de horror, perguntei:

- Mestre, quem são essas pessoas que sofrem tanto?

- Este é o destino daquelas almas que não procuraram fazer o bem divino, mas também não buscaram fazer o mal. - me respondeu o mestre. - Se misturam com aquele coro de anjos que não foram nem fiéis nem infiéis ao seu Deus. Tanto o céu quanto o inferno os rejeita.



- Mestre - continuei -, a que pena tão terrível estão esses coitados submetidos para que lamentem tanto?

- Te direi em poucas palavras. Estes espíritos não têm esperança de morte nem de salvação. O mundo não se lembrará deles, a misericórdia e a justiça os ignoram. Deixe-os. Só olha, e passa.

E então olhei e vi que as almas formavam uma grande multidão, correndo atrás de uma bandeira que nunca parava. Estavam todas nuas, expostas a picadas de enxames de vespas que as feriam em todo o corpo. O sangue escorria, junto com as lágrimas até os pés, onde vermes doentes ainda os roíam.

Quando olhei além dessa turba, vi uma outra grande multidão que esperava às margens de um grande rio.

- Quem são aqueles? - perguntei ao mestre.

- Tu saberás no seu devido tempo, quando tivermos chegado à orla triste do Aqueronte.

- Respondeu secamente.

Temendo ter feito perguntas demais, fiquei calado até chegarmos às margens daquele rio de águas pantanosas e cinzentas.
barqueiro Caronte à marge do Rio Aqueronte, agredindo as almas a pauladas, ordena que entrem no seu barco para a travessia. Ilustração de Gustave Doré, século XIX.
Chegava um barco dirigido por um velho pálido, branco e de pelos antigos. Ele gritava:

- Almas ruins, vim vos buscar para o castigo eterno! Abandonai toda a esperança de ver o céu outra vez, pois vou levar-vos às trevas eternas, ao fogo e ao gelo!

Quando ele me viu, gritou:

- E tu, alma vivente, te afasta desse meio pois aqui só vem morto! - Vendo que eu não me mexia, mais calmo, falou - Tu deves seguir para outro porto, onde um outro barco, maior, te dará transporte.

- Caronte, te irritas em vão! - intercedeu o mestre - Lá, onde se pode o que se quer, isto se quer, e não peças mais nada!

Caronte então se calou, mas pude ver que seus olhos vermelhos ainda ardiam de raiva. As almas, chorando amargamente, se amontoavam na orla e Caronte as embarcava, uma a uma, batendo nelas com o remo quando alguma hesitava. Depois seguiam, quebrando as ondas sujas do rio Aqueronte, e antes de chegarem à outra margem, uma nova multidão já se formava deste lado.
Dante desmaia aterrorizado com o que vê, após o relato de Francesca. Vemos no segundo círculo as almas que pecaram por luxúria, em turbilhões de vento - Ilustração de William Blake sec XVIII.

Enquanto Virgílio me falava sobre as almas que atravessavam o rio, houve um grande terremoto, seguido por uma ventania que inundou o céu com um clarão avermelhado, formando um redemoinho com as almas. O susto foi tão intenso que eu desmaiei e caí num sono profundo.
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Continuaremos no Canto IV em cinco dias.

Vicente Almeida
15/12/2013

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A DIVINA COMÉDIA - INFERNO - CANTO II - Por Vicente Almeida

CANTO II

Razão da viagem - Beatriz

anoitecia quando iniciamos a jornada. Ó Musas, ó grande gênio, me ajudem para que eu possa relatar aqui sem erro esta viagem que está escrita para sempre em minha mente! E então comecei:

Beatriz vai ao limbo pedir a Virgílio para acompanhar Dante ao inferno. Ilustração de Gustave Doré, Século XIX.
- Ó poeta que me guias, julga minha virtude e dize se é compatível com o caminho árduo que me confias. Não sou ninguém diante de Paulo ou Enéas. Não consigo crer que eu seja digno de tal, nem acho que outro pensaria da mesma forma.

- Se eu de fato compreendi o que acabas de dizer - respondeu o poeta -, tua alma está tomada pela covardia, que tantas vezes pesa sobre os homens, os afastando de nobres empreendimentos, como uma besta assustada pela própria sombra. Para te libertar desse medo, deixa que eu te explique como cheguei até ti:

"Eu estava com os outros espíritos suspensos no Limbo quando apareceu-me uma mulher beata e bela.

- Ó generosa alma mantuana, - disse ela -, ajude-me a socorrer um amigo, que está perdido na selva escura. Vai com tua fala ornada e ajuda-o para que eu seja consolada. Eu sou Beatriz, que pede que tu vás. Venho do céu e para o céu voltarei. Foi o amor que me trouxe e é ele quem me faz falar.

- Ó mulher de virtude, tanto me agrada obedecer-te, que basta dizeres o que desejas que eu faça que eu o farei. Mas dize-me, não tens medo de descer até este centro escuro?

- Deve-se temer as coisas que de fato têm o poder de nos causar mal - respondeu -, e mais nada, pois nada mais existe para temer. A mulher gentil que se compadeceu do que acontece com aquele a quem te envio, pediu a Luzia, dizendo: 'aquele teu adepto fiel precisa de tua ajuda e a ti o recomendo.' Luzia, inimiga de toda crueldade, veio então a procurar-me, onde eu sentava com a antiga Raquel. 'Beatriz', disse, 'não vais salvar quem mais te amou e que por ti se elevou do povo vulgar?' Logo que ouvi tais palavras desci aqui, do meu beato posto, por confiar na tua palavra honesta.

E assim, ela me deixou, e eu cheguei para afastar aquela fera que impedia que tu escalasses o belo monte."

- Então o que é que há? Por que tu és tão covarde? Por que não és bravo e corajoso, quando tens três mulheres abençoadas que te guardam lá do céu?

Depois que ele terminou de falar, eu não era mais o mesmo. Recuperei a coragem, perdi o medo e afastei todas as minhas dúvidas. Imediatamente voltei a confiar na jornada que me fora proposta e disse-lhe:

- Ó piedosa aquela que me socorreu, e tu que tão cortês atendeste ao seu pedido. Com tuas palavras tornei-me outra vez disposto. Vamos, que agora ambos queremos a mesma coisa. Tu serás meu guia, e eu te seguirei.

E assim, seguimos por um caminho árduo e silvestre.
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Aguarde o Canto III em cinco dias, quando chegaremos a porta do Inferno.

Vicente Almeida
10/12/2013

sábado, 7 de dezembro de 2013

A SECA E A FOME NO PASSADO - Por Vicente Almeida

No final do século XIX, lá por 1877 houve uma grande e devastadora seca no Nordeste brasileiro.

Na zona rural, a fome era muito grande e não havia como o governo transportar alimentos dos centros produtivos, distante centenas de léguas para a aridez do nordeste, região mais castigada pela ausência de chuvas.

Qualquer produto alimentício era transportado por meio de animais domésticos; burros, cavalos e jumentos e para chegar ao destino as vezes passavam meses, até mesmo esses animais morriam pelo caminho. Os restantes, quando chegavam com o alimento, muita gente já havia morrido de fome, principalmente crianças.

A cena era muito triste e desoladora. O leitor poderá imaginar a situação: Um chefe de família com um, dois ou mais filhos passando dias e dias acordando e dormindo de barriga murcha e muitos já não acordavam mais no dia seguinte.

A ausência de comida matava muita gente, fato que se tornou corriqueiro naqueles tempos, por que imensas distancias separavam o Nordeste dos centros produtivos do Sul e ainda não havia estradas nem meios de comunicação.

Na aridez de nossos sertões, quando o nordestino nada mais tinha para saciar sua fome lançava mão de todos os meios possíveis para sobreviver ao menos até o dia seguinte, sem saber por quanto tempo ainda duraria.

Eles adotaram todos os meios possíveis de sobrevivência. De principio iam cozinhando todos os animais domésticos; gatos, cães, papagaios e outras aves.

Comiam qualquer pequeno animal que conseguiam capturar; uma lagartixa, um calango, e tantos outros que também estavam em extinção por falta de alimento por que o controle biológico fora afetado. Naquele tempo torravam e comiam até sola de sapato. Sim  leitor, naquele tempo todo sapato era de couro e serviu de alimento para muita gente.

Durante a seca tremenda que nossos ancestrais sofreram havia uma família e nela uma criança de uns cinco ou seis anos dono de um cão, que era muito amigo de todos, principalmente da criança, seu dono. Aonde um ia o outro ia atrás e dormiam juntos em uma esteira o cantinho do quarto.

Pois bem, quando a fome superou a razão, a família decidiu matar o cão, cozinhar com água e sal e comer.

Foram então comunicar a criança que seu cão seria sacrificado em benefício dos sobreviventes.

Ao ser informado, chorou todas as lágrimas que podia, embora a fome fosse alucinante não queria se separar do cão, seu fiel amigo, que aquela altura já estava também muito magro.

A família decidiu então não matar mais o cão. Ai a criança chorou bastante por que estava com fome e não tinham mais o que comer, já que não iam mais matar o cão.

Sem alternativas decidiram novamente matar o cão e quando a criança viu seu amigo morto chorou alucinadamente por que não tinha mais um amigo para abraçar e brincar.

Finalmente fatiaram o cão e chamaram a criança para comer sua parte, ela chorou como louca para não comer seu amigo.

Como todos os membros da família estavam com muita fome comeram tudo, pilaram até os ossos para fazer farinha.

Quando a criança parou de chorar sentiu mais fome ainda e foi pedir sua parte no cão. todos olharam para ele e pesarosos disseram: Comemos tudo, você falou que não queria!

Ai a criança chorou até o dia seguinte por que não comeu do seu cão.

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Uns vinte ou trinta anos depois, já no século XX, a história da seca foi ficando para trás e era triste relembrar.

Entretanto a ocorrência com a criança não foi esquecida e os sobreviventes contavam como algo engraçado, por que ela havia chorado para não matarem seu cão, depois por que desistiram de matar, ai chorou por que decidiram novamente sacrificar o cão, depois chorou ao ver o cão morto, chorou para não comer dele e finalmente chorou por que não comeu do seu cão.

Minha esposa, descendente de espanhóis, historiadora e contadora de causos sobre seus antepassados, fala que sua avó materna nascida em 1890 contava com frequência essa história que ouviu de alguém e ainda hoje é repetida por seus descendentes.
Escrito por Vicente Almeida
07/12/2013

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A DIVINA COMÉDIA - INFERNO - CANTO I - Por Vicente Almeida

CANTO I
Canto I - Original
A selva escura - As feras - O espírito de Virgílio.


Quando eu me encontrava na metade do caminho de nossa vida, me vi perdido em uma selva escura, e a minha vida não mais seguia o caminho certo. Ah, como é difícil descrevê-la! Aquela selva era tão selvagem, cruel, amarga, que a sua simples lembrança me traz de volta o medo. Creio que nem mesmo a morte poderia ser tão terrível. Mas, para que eu possa falar do bem que dali resultou, terei antes que falar de outras coisas, que do bem, passam longe.

Dante perdido na selva escura - Ilustração de Gustave Doré - Sec. XIX

Eu não sei como fui parar naquele lugar sombrio. Sonolento como eu estava, devo ter cochilado e por isso me afastei da via verdadeira. Mas, ao chegar ao pé de um monte onde começava a selva que se estendia vale abaixo, olhei para cima e vi aquela ladeira coberta com os primeiros raios do sol. A cena trouxe luz à minha vida, afastou de vez o medo e me deu novas esperanças. Decidi então subir aquele monte. Olhei para trás uma última vez, para aquela selva que nunca deixara uma alma viva escapar, descansei um pouco, e depois, iniciei a escalada.
A fera não parecia querer brincar
Eu havia dado poucos passos, quando, de repente, saltou à minha frente um ágil e alegre leopardo. Astuto, de pelos manchados, de todas as formas ele impedia que eu seguisse adiante. Não adiantava desviar ou buscar um outro caminho pois no final, ele sempre estava lá, bloqueando a minha passagem. Várias vezes tentei vencê-lo. Várias vezes falhei.

O dia já raiava e o sol nascia com aquelas mesmas estrelas que acompanharam o mundo no seu primeiro dia. A luz e a claridade daquele dia especial renovaram minhas esperanças, e me fizeram acreditar que iria conseguir vencer aquela fera malhada.

Mas a minha esperança durou pouco e o medo retornou quando vi surgir, diante de mim, um leão. Ele parecia avançar na minha direção, com a cabeça erguida, tão faminto e raivoso que até o próprio ar parecia temê-lo. E depois veio uma loba, magra e cobiçosa, cuja visão tornou minha alma tão pesada, pelo medo que me possuiu, que não vi mais esperança alguma na escalada. A loba avançava, lentamente, e me fazia descer, me empurrando de volta para aquele lugar onde a luz do Sol não entra.

Quando eu já me encontrava na beira daquele vale escuro, meus olhos aos poucos perceberam um vulto que se aproximava, que apagado estivera, talvez por excessivo silêncio.

- Tenha piedade de mim - gritei ao vê-lo - quem quer que sejas, sombra ou homem vivo!

- Homem não mais - respondeu o vulto -, homem eu fui um dia. Nasci em Mântua, nos tempos de Júlio César e vivi em Roma no império de Augusto. Fui poeta e narrei a Odisseia de Enéas, que fugiu de Troia depois do incêndio. E tu, por que não sobes o precioso monte, princípio e causa de toda glória?

- Tu és Virgílio? - perguntei, vergonhoso - Ora, tu és meu mestre e meu autor predileto! Foi contigo que aprendi o belo estilo poético que me deu louvor. Eu não subi o monte por causa dessa fera. Ela me faz tremer os pulsos. Ajuda-me, sábio famoso! Ajuda-me a enfrentá-la!

- A ti convém seguir outra viagem - respondeu o poeta, ao me ver lacrimejando - pois essa fera, essa loba, é a mais feroz e insaciável de todas. Ela só partirá quando finalmente vier o Lebreiro que para ela será a dura morte. Ele não se alimentará nem de dinheiro, nem de terras; só a sua sabedoria, amor e virtude poderão nutri-lo. Ele virá para salvar a tua Itália caída. Ele irá caçar essa fera em todas as cidades até encontrá-la, quando então a matará e a conduzirá de volta ao inferno, de onde a Inveja, primeiro a trouxe para este mundo.

Depois, me fez uma proposta:

- Eu acho melhor, para teu bem, que me sigas. Eu serei o teu guia. Te levarei para um lugar eterno onde verás condenados gritando em vão, por uma segunda chance. Depois verás outros que sofrem contentes no fogo, pois têm esperança de um dia seguir ao encontro daquela gente abençoada. E depois, se quiseres subir ao céu, lá terás alma mais digna do que eu, pois o imperador daquele reino me nega a entrada, pois à sua lei eu fui rebelde.

- Poeta - respondi -, eu te imploro, em nome desse Deus que não conheceste, que me ajudes a fugir deste mal ou de outro pior. Eu te seguirei a esses lugares que descreveste. Que eu possa ver a porta de São Pedro e os tristes sofredores dos quais falaste!

Ele então moveu-se, e eu o acompanhei.
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Aguarde o Canto II em cinco dias.
Vicente Almeida
05/12/2013