OBRIGADO PELA VISITA

O LABORATÓRIO SIDERAL leva até você, somente POSTAGENS de cunho cultural e educativo, que trata do universo; das gentes; das lendas; das religiões e seus mitos, e de forma especial, dos grandes mistérios que envolvem nosso passado. Contém também muitos textos para sua meditação. Tarefa difícil, mas atraente. Neste Blog não há bloqueio para comentários sobre qualquer postagem.

A FOTO ACIMA É A VISÃO QUE TEMOS DO NOSSO INCANSÁVEL PICA PAU, ABUNDANTE AQUI NA MATA DA NOSSA "VILA ENCANTADA".

terça-feira, 15 de julho de 2014

A DIVINA COMÉDIA - INFERNO - CANTO XXXIV - Por Vicente Almeida

Judeca - Lúcifer - O Centro da Terra.

- Estamos diante das bandeiras do rei do Inferno - disse-me Virgílio, - Olha pra frente e vê se consegues discerni-lo.
Dante e Virgílio, como miniaturas no alto do penhasco observando a descomunal figura de Lúcifer, respeitadas as proporções é o mesmo que comparar um beja-flor com uma águia - Ilustração de Paul Gustave Doré.
 Comecei a ver, na distância, o que parecia ser um grande moinho, que provocava aquelas rajadas de vento gelado. Estávamos chegando ao lugar onde eram punidos aqueles que traíram os seus benfeitores.

Neste lugar sombrio e gelado, as almas estavam completamente submersas no gelo, transparecendo como palha em cristal. Algumas estavam de pé, outras de ponta-cabeça, outras atravessadas, outras em arco, outras curvadas e outras invertidas.

Quando já tínhamos caminhado o suficiente, o mestre decidiu me mostrar aquele que um dia teve tão belo semblante:

- Esse é Dite - disse ele - e este é o lugar que exige toda a coragem que tens em ti.
Não me perguntes, leitor, como eu fiquei fraco e gelado, pois não há palavras que possam descrever aquela sensação. Eu não morri, nem estava vivo. Tente imaginar, se puderes, como sem uma coisa nem outra eu fiquei. Vi aquele gigante submerso no gelo, despontando seu corpo do peito para cima. Só o seu braço tinha o tamanho de um daqueles gigantes que encontramos na entrada do lago.

Fiquei mais assombrado ainda quando vi que três caras ele tinha na sua cabeça. Toda vermelha era a da frente. A da direita era amarela e a da esquerda negra. Acompanhava cada uma, um par de asas como as de morcego (eu nunca vi um navio com velas tão grandes). E ele as abanava, produzindo três ventos delas resultantes. Era esse vento que congelava as águas do Cócito. Ele chorava por seis olhos e dos três queixos caía uma sangrenta baba que pingava junto com as lágrimas. Em cada boca ele moía um pecador. O da frente ele mordia mais rapidamente que os outros. Cada ceifada lhe arrancava a pele inteira.
Lúcifer comendo almas pecadoras
- Esse da frente é Judas Iscariote - disse-me o mestre - que sofre pena dobrada, com a cabeça para dentro e as pernas para fora. O que é mordido pela boca preta é Bruto e o outro é Cássio. Mas em breve será noite. Está na hora de partirmos, pois já vimos tudo o que há para se ver. Agora, agarre-se em mim firmemente.

Obedeci-o e ele me carregou, se dirigindo para as costas de Lúcifer. Aguardou um pouco e quando as asas estavam altas, saltou da beira de um fosso para a escuridão, mas logo agarrou-se às costas peludas do Demônio. Descemos mais ainda. Estávamos entre as costas de Lúcifer e às crostas congeladas do Cócito. Quando chegamos à altura da junção da coxa ao tronco do gigante infernal, meu guia, já mostrando sinais de fadiga, inverteu o corpo e, sem soltar os pelos do monstro, seguiu, como se subisse, me fazendo pensar que voltávamos para o inferno.

- Segura firme - disse ele - pois não há outro caminho. Só por estas escadas poderemos escapar de tanto mal.

E saímos por uma brecha na rocha. Virgílio, visivelmente exausto por ter me carregado, me colocou numa beira para que eu me sentasse. Olhei para cima procurando por Lúcifer mas não o achei. Encontrei-o lá embaixo de pernas para o ar. Virgílio me confundiu ainda mais, falando:

- Levanta-te pois o caminho é longo. O dia já amanhece!

- Como amanhece? - perguntei-lhe - O tempo passou tão depressa assim? Como já pode ser dia se agora há pouco começava a noite? E me esclareças mais: onde está a geleira? E por que Lúcifer está de cabeça para baixo?

- Tu pensas que ainda estamos do outro lado. - disse-me o guia - Nós passamos pelo centro da terra, que puxa todo peso. Estamos agora embaixo do céu oposto, no hemisfério de água. Sob teus pés está uma pequena esfera, cujo lado oposto é ocupada pela Judeca. Se do outro lado anoitece, aqui o dia nasce.
Dante e Virgílio ao sair do outro lado da terra contempla os primeiros sinais celestes - Ilustração de Paul Gustave Doré.
Este buraco por onde passamos foi formado quando Dite caiu do céu, e ele até hoje aí permanece. Depois da queda, por medo dele, a terra que formava os continentes deste lado fugiu para o nosso céu deixando encoberto pelo mar todo este hemisfério. A terra que estava aqui amontoou-se na superfície onde formou uma montanha, deixando este caminho vazio. Aí embaixo há um lugar, tão distante de Belzebú quanto o limite de sua tumba, conhecido pelo som (e não pela vista) de um pequeno riacho que para cá descende, pelo sulco que por ele foi aberto.
Dante e Virgílio contemplando a abóboda celeste e felizes por haverem passado incólumes pelo inferno. A visão deles é a mesma de todos nós que os acompanhamos nesta viagem fantástica pelo imaginário do autor.
Passamos então o resto do dia seguindo por aquele caminho escondido debaixo do chão, sem descanso algum. Depois da longa caminhada subimos, ele primeiro e eu atrás, passando por uma pequena abertura na pedra, para enfim, rever as estrelas. O céu resplandecia em beleza.

*******************************************
**************************************
*********************************
PRONTO LEITOR, MISSÃO CUMPRIDA:

Saímos dos círculos infernais, FIM DA VIAGEM pelo Inferno, através da "Divina Comédia", do florentino Dante Alighieri.

E aqui termina o nosso trabalho. Aprendemos muito durante esta fictícia jornada.

O horror e o sofrimento, são realidades não descartáveis e às vezes bem pior do que aqui descrito, mas, nunca são eternos.

Na verdade, a nossa intenção era mostrar o que o nosso ser imortal poderá sofrer após a morte do corpo, como contrapasso (reflexo ou consequência) a cada ato danoso que venhamos a praticar em vida contra nosso semelhante.

A consequência pelos atos que praticamos é uma coisa que todos sabemos mas nem ligamos e cada vez aprofundamos mais o abismo que se abre sob nossos pés e inexoravelmente virá o dia em que deveremos iniciar o resgate das nossas faltas.

Ninguém, absolutamente ninguém poderá fugir do tribunal da própria consciência.

Da nossa parte, ficamos conhecendo muitos personagens da antiguidade, graças as pesquisas que empreendemos para entender o poema e postar as informações com segurança.

Passamos mais de seis meses publicando a cada cinco dias um Canto da primeira parte (INFERNO) do maior clássico da literatura universal.

Obrigado aos leitores que de alguma forma tenham se sentido estimulados a se integrar nesta fantástica viagem. Tenho certeza que muito aprenderam, se assim o desejaram.

As postagens se tornaram possíveis, graças ao grandioso e incansável tradutor e pesquisador Helder da Rocha que o transformou em prosa. Não fosse ele, A Divina Comédia continuaria sendo para nós, apenas um poema clássico, cansativo e incompreensível, exceto para aqueles (e não são poucos) que se propõem a aprofundar seus estudos no tema.

É difícil explicar Dante Alighieri, mas, milhares de estudiosos se dedicam a essa incansável tarefa.

As imagens: Pinturas e gravuras, tornaram possível uma melhor compreensão do texto, e não está longe da verdade o texto que diz: "Uma imagem vale mais do que mil palavras".

Quando o leitor tiver oportunidade, não deixe de ler algo que valha a pena. Seu despertar para uma leitura praseirosa é estimulante e educativa.




Quanto a continuação deste poema, - O Purgatório e o Paraíso, narram a trajetória da alma até finalmente chegar aos campos de delícias, como recompensa pelos atos de bondade que tenha praticado em vida.
Vicente Almeida
15/07/2014

Um comentário:

  1. É...

    O Comentário a seguir é uma coletânea extraída dos estudos DANTOLÓGICOS de vários autores que, em profundidade procuraram dissecar a "Divina Comédia" com uma miríade de interpretações do pensamento dantesco.

    Aliás, todos os comentários inseridos nas postagens, um em cada Canto é o resultado do estudo de inúmeros comentaristas da "Divina Comédia" a partir de Helder da Rocha.
    *****************************************************************
    *****************************************************************

    Judeca é o nome do giro mais baixo do último círculo do inferno. É lá que reside Lúcifer, fazendo companhia àqueles que, em vida, traíram seus benfeitores. Eles sofrem intensamente devido à proximidade de Lúcifer, e por estarem submersos totalmente no gelo do lago Cócito, Conscientes por toda a eternidade. O nome vem de Judas Iscariotes (34.5), o traidor de Jesus Cristo.

    Lúcifer é o portador da luz, o anjo que ocupava cargo da mais alta confiança e que, rebelando-se, traiu a Deus e por isto foi expulso do céu, vindo a cair na terra. Na sua queda, ele afundou pela superfície e só veio parar quando chegou ao centro da Terra, sobre a qual passou a reinar.

    Os comentadores Ottimo e Benvenuto identificam as três faces de Lúcifer como símbolos opostos à Trindade: o ódio, a ignorância e a impotência.

    Outros vêem Lúcifer como uma representação da própria terra e suas faces como representações dos três continentes conhecidos: Europa, Ásia e África.

    Uma interpretação interessante sobre os três pecadores que são mastigados por Lúcifer é a seguinte (na imaginação do dantólogo Gabrielle Rossetti): "Os três espíritos que pendem da boca de Lúcifer são Judas, Brutus e Cássius. Não se sabe a razão precisa pela qual o autor escolheu essas três personalidades, mas não hesitamos em supor ter sido a seguinte: ele considerava o papa não só um traidor e vendedor de Cristo, mas também um traidor de César. Por isso colocou Judas (traidor e vendedor de Cristo) na sua boca central e Brutus e Cassius (traidores de César) nas suas bocas laterais, já que o papa, que originalmente nada mais era que o vigário de César, tornou-se seu inimigo, e usurpou a capital do seu império e a autoridade suprema. Sua traição a Cristo não foi descoberta por todo o mundo, logo, o rosto de Judas está oculto: 'Esse, que sofre aí pena dobrada, é Judas Iscariote - disse o guia - com as pernas fora e a cabeça abocada.' (Inferno XXXIV). Sua traição a César foi clara e evidente, portanto Brutus e Cassius mostram suas faces."

    Bruto (Marcus Junius Brutus, 85-42 a.C.): Político romano que teve grande poder durante o império de Júlio César (4.16). Entrou para a história ao tramar, na primavera de 44 a.C., a morte de César juntamente com Cássio. Tendo conseguido seu intento, formou um grande exército na Macedônia com a intenção de tomar o poder no império romano, mas foi derrotado pelo exército de Marco Antônio e Otaviano que depois tornou-se imperador. Bruto suicidou-se.

    Cássio (Gaius Cassius Longinus): General romano do exército de Júlio César e um dos líderes da conspiração que levou César à morte. Junto com Bruto, Cássio foi um dos assassinos de César. Foi derrotado em batalha quando tentava tomar o poder em Roma junto com Bruto e suicidou-se para que não fosse capturado.

    Judas Iscariotes: Não há um só cristão que não saiba da sua história. Foi um dos discípulos de Jesus Cristo, conhecido por tê-lo traído ao vendê-lo aos fariseus por 30 moedas de prata. Depois de sua traição, caiu em desespero e suicidou-se. (Evangelho de Mateus 26-27)

    *****************************************************************
    *****************************************************************

    Era o que tínhamos a apresentar ao leitor.

    Foi uma maratona cansativa, complexa mas gratificante APRENDEMOS MUITO COM ESTE ESTUDO.

    Vicente Almeida

    ResponderExcluir