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O LABORATÓRIO SIDERAL leva até você, somente POSTAGENS de cunho cultural e educativo, que trata do universo; das gentes; das lendas; das religiões e seus mitos, e de forma especial, dos grandes mistérios que envolvem nosso passado. Contém também muitos textos para sua meditação. Tarefa difícil, mas atraente. Neste Blog não há bloqueio para comentários sobre qualquer postagem.

A FOTO ACIMA É A VISÃO QUE TEMOS DO NOSSO INCANSÁVEL PICA PAU, ABUNDANTE AQUI NA MATA DA NOSSA "VILA ENCANTADA".

domingo, 15 de dezembro de 2013

A DIVINA COMÉDIA - INFERNO - CANTO III - Por Vicente Almeida

CANTO III


O portal do Inferno – Vestíbulo - Rio Aqueronte - Caronte

Dante e Virgílio diante da entrada do Inferno Ilustração de Helder da Rocha
POR MIM SE VAI À CIDADE DOLENTE,
POR MIM SE VAI À ETERNA DOR ,
POR MIM SE VAI À PERDIDA GENTE.

JUSTIÇA MOVEU O MEU ALTO CRIADOR,
QUE ME FEZ COM O DIVINO PODER,
O SABER SUPREMO E O PRIMEIRO AMOR.

ANTES DE MIM COISA ALGUMA FOI CRIADA
EXCETO COISAS ETERNAS, E ETERNA EU DURO.
DEIXAI Ó VÓS QUE ENTRAIS, TODA ESPERANÇA!

Estas palavras estavam escritas em tom escuro, no alto de um portal. Eu, assustado, confidenciei ao meu guia:

- Mestre, estas palavras são muito duras.

- Não tenhas medo - respondeu Virgílio, experiente - mas não sejas fraco! Aqui chegamos ao lugar, do qual antes te falei, onde encontraríamos as almas sofredoras que já perderam seu livre poder de arbítrio. Não temas, pois tu não és uma delas, tu ainda vives.

Em seguida, Virgílio segurou minha mão, sorriu para me dar confiança, e me guiou na direção daquele sinistro portal.

O Vestíbulo ou Anti-Inferno

Logo que entrei ouvi gritos terríveis, suspiros e prantos que ecoavam pela escuridão sem estrelas. Os lamentos eram tão intensos que não me contive e chorei. Gritos de mágoa, brigas, queixas iradas em diversas línguas formavam um tumulto que tinha o som de uma ventania. Eu, com a cabeça já tomada de horror, perguntei:

- Mestre, quem são essas pessoas que sofrem tanto?

- Este é o destino daquelas almas que não procuraram fazer o bem divino, mas também não buscaram fazer o mal. - me respondeu o mestre. - Se misturam com aquele coro de anjos que não foram nem fiéis nem infiéis ao seu Deus. Tanto o céu quanto o inferno os rejeita.



- Mestre - continuei -, a que pena tão terrível estão esses coitados submetidos para que lamentem tanto?

- Te direi em poucas palavras. Estes espíritos não têm esperança de morte nem de salvação. O mundo não se lembrará deles, a misericórdia e a justiça os ignoram. Deixe-os. Só olha, e passa.

E então olhei e vi que as almas formavam uma grande multidão, correndo atrás de uma bandeira que nunca parava. Estavam todas nuas, expostas a picadas de enxames de vespas que as feriam em todo o corpo. O sangue escorria, junto com as lágrimas até os pés, onde vermes doentes ainda os roíam.

Quando olhei além dessa turba, vi uma outra grande multidão que esperava às margens de um grande rio.

- Quem são aqueles? - perguntei ao mestre.

- Tu saberás no seu devido tempo, quando tivermos chegado à orla triste do Aqueronte.

- Respondeu secamente.

Temendo ter feito perguntas demais, fiquei calado até chegarmos às margens daquele rio de águas pantanosas e cinzentas.
barqueiro Caronte à marge do Rio Aqueronte, agredindo as almas a pauladas, ordena que entrem no seu barco para a travessia. Ilustração de Gustave Doré, século XIX.
Chegava um barco dirigido por um velho pálido, branco e de pelos antigos. Ele gritava:

- Almas ruins, vim vos buscar para o castigo eterno! Abandonai toda a esperança de ver o céu outra vez, pois vou levar-vos às trevas eternas, ao fogo e ao gelo!

Quando ele me viu, gritou:

- E tu, alma vivente, te afasta desse meio pois aqui só vem morto! - Vendo que eu não me mexia, mais calmo, falou - Tu deves seguir para outro porto, onde um outro barco, maior, te dará transporte.

- Caronte, te irritas em vão! - intercedeu o mestre - Lá, onde se pode o que se quer, isto se quer, e não peças mais nada!

Caronte então se calou, mas pude ver que seus olhos vermelhos ainda ardiam de raiva. As almas, chorando amargamente, se amontoavam na orla e Caronte as embarcava, uma a uma, batendo nelas com o remo quando alguma hesitava. Depois seguiam, quebrando as ondas sujas do rio Aqueronte, e antes de chegarem à outra margem, uma nova multidão já se formava deste lado.
Dante desmaia aterrorizado com o que vê, após o relato de Francesca. Vemos no segundo círculo as almas que pecaram por luxúria, em turbilhões de vento - Ilustração de William Blake sec XVIII.

Enquanto Virgílio me falava sobre as almas que atravessavam o rio, houve um grande terremoto, seguido por uma ventania que inundou o céu com um clarão avermelhado, formando um redemoinho com as almas. O susto foi tão intenso que eu desmaiei e caí num sono profundo.
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Continuaremos no Canto IV em cinco dias.

Vicente Almeida
15/12/2013

4 comentários:

  1. É...

    O Portal do Inferno: não tem portas ou cadeados, somente um aviso sobre a entrada, que adverte: uma vez dentro, deve-se abandonar toda a esperança de rever o céu, pois de lá não se pode voltar.

    As almas entram porque querem. Na alegoria, essas almas são a imagem do pecado na pessoa ou na sociedade.

    A alma só tem poder de escolha enquanto habita seu corpo, podendo decidir pelo céu ou pelo inferno. Após desencarnar, perde a capacidade de raciocinar e tomar decisões.

    O ante-inferno, ou vestíbulo. Serve como destino para as almas que não podem ir para o céu nem para o inferno. É a morada dos indecisos, covardes e que passaram a vida em cima do muro.

    Em vida nunca quiseram assumir compromissos, tomar decisões firmes ou fazer qualquer coisa definitiva, por achar que assim perderiam a oportunidade de fazer alguma outra coisa.

    A sua neutralidade e falta de ação é retribuída na forma de um contrapasso, e agora são obrigados a correr atrás de uma bandeira que não vai a lugar algum. Esses espíritos não tem esperança de morte nem de salvação.

    Esse contrapasso, reflete, de forma simbólica, os efeitos do pecado cometido, aplicados como punição. Se baseia em uma justiça do tipo: "Olho-por-olho, Dente-por-dente".

    Vicente Almeida

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    1. oi, onde acho o livro desta obra nessa linguagem simples? Pois as que encontrei está numa tradução muito formal e dificil de entender.grato!

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    2. É...

      Meu caro Marcelo Reis. É bom tê-lo conosco.

      A Divina Comédia, da forma que você encontrou em nosso Blog não existe em um livro específico. É o resultado de um trabalho de pesquisas, tradução e compilação durante cerca de dois anos.

      Procuramos disponibilizar aqui da forma mais didática possível e em prosa, afim de tornar a leitura menos cansativa e mais prazerosa.

      Antes dos Cantos sobre o Inferno, escrevemos a introdução em três partes, onde você encontrará inúmeras respostas as suas indagações.

      Existe um único livro em português editado pela Editora Itatiaia 8ª Edição - 2006 em verso, mas, com muitas notas explicativas o que ajuda bastante a nossa compreensão.

      Não conhecemos a obra em prosa. Os textos em prosa como você vê aqui é uma interpretação dos inúmeros versos de cada Canto.

      Acreditamos que se "A Divina Comédia" fosse traduzida e impressa em prosa tiraria sua originalidade.

      Leia os comentários inseridos em cada postagem pois é um complemento para melhor entender o Canto.

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